quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Lembranças do Amanhã

London Eye - ©Paulo Nogueira

Lembro-me do futuro
Da cor da camisa que usaria
De não estar em cima dum muro
Lembro-me de uma certa alegria.

E me lembro naquele futuro
Do perfume de coisas belas
De sentir-me calmo e seguro
De esperança em cada janela

Houve tempo em que tive saudades
Do futuro que eu muito queria ter
Um futuro de perfumadas felicidades
Um futuro impossível de esquecer.

Tive tanta, tanta saudade
Daquele futuro brilhante
De uma bela e grande cidade
Quem sabe, um país distante

Mas como todo futuro pensado
Ele acabou ficando pra trás
Acabou se tornando passado
Sem o que, nem porque mais...

E vieram tantos, e frios presentes
Urgentes e insistentes agoras,
Que mesmo a esperança resistente
Sentiu-se fraquejar naquela hora.

Momentos reais, perdas, esperas
Eu vivendo a roda viva da vida
Trancado na jaula das feras
E sem futuro para uma acolhida

Mas passado um momento, e tudo mais
Li em algum lugar uma frase
Quem sabe em revistas, talvez em jornais
Dizia que até o presente é uma fase,
E que a poesia, estando instalada
Se tornava o fiel da minha balança
Nas mãos do poeta, tal qual espada
Ou talvez até uma lança
A empunhar palavras,
Num campo de batalha
Com seu olhar puro,
Poeticamente trabalha,
Para lembrar-se do futuro.

Publicado no Recanto das Letras em 08/12/2010