terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Antes de Içar as Velas

"Arrastão à Tardinha" de Lucio Quental

Às vezes nos surpreendemos girando gentilmente nas águas de um turbilhão de compromissos, obrigações, prazeres, encontros, sorrisos e pequenos e agradáveis desesperos. Alguns de nós acabam conseguindo apertar o botão de pause num desses momentos para poder descansar. Enquanto isso o corpo continua pilotando o caiaque que desce essa corredeira na qual nossa vida se transforma em certas épocas. Na maioria das vezes é tranqüilo, em outras não. Algumas vezes temos que correr lá e tomar o controle. Voltar ao foco se não a gente se perde no meio das pedras, ou toma um caldo aqui ou ali.

Hoje tirei uns 5 minutos pra pensar nisso. Sinto saudade da época que o tempo passava na sua velocidade real. Fiquei nostálgico do tempo em que um sábado parecia eterno pra mim. Quando um fim de semana era uma eternidade a se explorar. E nesse festival de analogias e metáforas aquáticas, de tanto pensar, acabo encontrando meu coração no meio do caminho. Pensar sobre sentimentos. Sentir sobre pensamentos. Eu tenho afeição por pensar, sinto carinho por desenvolver um assunto na cabeça. Mas me assusta a rigidez das filosofices. Se filosofar é rigor, é regra, é engenharia com pensamentos, acabei me afastando disso. Há quem goste, há quem faça bem, há quem nasceu pra tanto. Quero pensar de forma artística mesmo.  Desenhar pensamentos. Pequenas aquarelas coloridas com lembrança. Fotografar as mil faces da ilusão, os mil tons do amor, as mil formas da amizade. Fazer esculturas com a massa cinzenta que anda tão mal utilizada ultimamente.

Mas no final, tudo se resume a navegar. Quando o caiaque termina de descer as corredeiras, vai chegando mais perto da foz do rio. Abre-se diante de nós aquele enorme estuário das possibilidades, cercado do mangue ao mesmo tempo riquíssimo e assustador do amanhã. Nessa hora é necessário pensar, sentir, e saber. Tudo ao mesmo tempo. Nessa hora, o preparo é o que separa os amadores dos profissionais. O mar aberto está logo ali, logo depois da próxima curva. E se atirar numa aventura no mar aberto é de um prazer assustador, mas todo navegador sabe que é burrice fazer isso sem uma boa embarcação. Sem bons mapas, bons instrumentos e suprimentos. O mar é imprevisível, ninguém que vai a ele sabe com certeza de sua volta. Mas estar bem preparado é prerrogativa de quem quer não só a aventura, mas todos os maravilhosos proveitos, aprendizados e experiências que podemos tirar dela. Atire-se na jornada, mas cheque seu equipamento antes, por bem do seu próprio prazer e felicidade.