sábado, 11 de dezembro de 2010

Buscas



Tem dias que meu coração
Fica num estado tal,
Tomado de tanta emoção
Algo fora do normal

Tem horas que chega doer
Ouvir uma música bela,
Ler num livro algo bonito
Ou apenas parar, e pensar nela...

Em outros dias, meu coração
É víscera, é animal
Em estado de agitação
Uma fera, um ser primal

Tem horas que é afiado
Tem jeito de vidro partido
Como por aço ou ferro forjado
Por vezes fere, ou é ferido

Uns dias meu olhar captura
A mais singela das cenas
E ali, no peito a segura
Pra não esquecer, apenas.

Uns dias, vejo só a dor
A minha, a de quem passa perto
Da solidão, da falta de amor
Das surpresas, ou do incerto

Uns dias, trago o mundo na alma
E uma flor em minhas mãos
A música que as feras acalma
No olhar trago pronto o perdão

Em outros, sou puro tormento
Advogado, juiz, júri, executor
Não sei de nada, só do momento
Nada me tira desse torpor

E chega um dia em que nada sou
Despido de tudo, até de mim mesmo
Olho pra trás, para quem me amou
Alcanço no mais profundo do meu ser
E pergunto, “quem, quem mesmo eu sou?”
O passado olha minha face triste
De joelhos, me curvo ante o vazio infinito
Mais uma vez pergunto, as mãos em riste
O céu responde, num vento aflito

Cinzento, escuro o ar abafado
Eu na terra, por formigas rodeado
Sinto o cheiro molhado do chão
E começa a chover então...

O mundo me troveja respostas
Gotas de verdade caem em mim
Não nasci para virar as costas
Nem pro que é bom, nem pro que é ruim

Essa é a minha sina, a minha missão
Andar, esperar, fazer o que puder
Agarrar se estiver ao alcance da mão
Ofertar um sorriso a alguém quando der

Procurar o meu próprio Deus pessoal
Com meu jeito, meu pleito, minha feição
Esperar que a paz venha um dia, afinal
E amar, e escrever, e fazer disso oração.


Publicado no Recanto das Letras em 17/09/2009