segunda-feira, 12 de março de 2012

Dias de luta


















Ao meu lado, minhas botas descansam
Meus pés a sentir o frio do chão
Pela janela, vejo os anos que avançam
Em cada vez mais rápida sucessão.

A semana passou, eu não vi
Chateado, inadequado, dormente
Já a vida passando, eu senti
Pra culpar, só o maldito inconsciente.

Ouço cair uma chuva gentil lá fora
Mais agradável que esses meus dias
Sinto tanta saudade de sentir a demora
Das tardes quentes, das manhãs frias...

Mas a vida está aí, ela é feia, ela é dura
É boa de porrada, bate muito, muito bem
Espera pra te atacar numa esquina escura,
E depois de caído, te olhar com desdém.

Eis, que a semana molhada vai passando
Me retornam as forças, a dor diminui
A velha vontade de viver vai brotando
Já vou sendo outro, não mais quem fui

E o renascer dessas cinzas rotineiras
É a tônica de todo meu cotidiano
Como água a pingar de muitas torneiras
Ou as marés, com que conto meus anos.

(originalmente publicado em 13/06/2011)

Divagações

©Sxc.hu

Às vezes, é minha mente a divagar.
De vagar, de tanto vagar, ela cansa
Mesmo que vagueie devagar,
Mesmo quando a poesia a alcança,
O desânimo vem, e a faz hibernar

 Entra num ócio contido, um quase-sono
Um não-pensar desvalido de abrigo
Um morar em país estranho, sem patrono
É a mente a tropeçar, em território inimigo

Às vezes, é a vida e suas tragédias normais
Sejam más notícias, públicas ou privadas
Às vezes prejuízos, ou doenças mortais
Outras vezes, desilusões desamordaçadas

A mente flutua num âmbar cartilaginoso
Num pântano sutil de impressões a tirar
Uma selva implacável, habitat perigoso
E quase nenhum mapa para me guiar.

O segredo para sair, duramente aprendido
É ir pisando nas pedras que acaso encontrar
Mesmo que às vezes me suspeite perdido
Olha em torno, vê outra pedra onde possa pisar

Só se pisa na próxima, se mostrar-se segura
Firme, capaz de sustentar bem o peso
De nós, nossas vidas, dúvidas, amarguras
Pra seguirmos nosso caminho coeso
E partir de cada pedra, para trilhas futuras

E saindo dali, a mente descansa
Do repouso traz nova energia
Retoma um pouco do riso de criança
E abre espaço para a velha alegria.