quarta-feira, 16 de maio de 2012

Rio, cidade olímpica. Ou não.

Rio, cidade olímpica. Ou não.


A alma do Rio de Janeiro mora, essencialmente no seu centro. Esqueçam a Zona Sul, deixem a Zona Norte pra lá. Assim como as pessoas, as cidades muitas vezes evoluem, crescem, mudam de categoria, enriquecem. Mas se quisermos entender seu jeito de ser, compreender muitos dos comos e porquês, e reconhecer as origens de suas idiossincrasias, é necessário olhar suas origens. Saber de onde vieram, e como foram criadas. Assim com as pessoas, assim com o Rio de Janeiro. Eu conheci o Rio de Janeiro entrando por sua porta dos fundos. Entrei por um lado diferente do approach turístico, dos que desembarcam no Aeroporto do Galeão (aliás, há tempos mudou o nome, mas prefiro o antigo mesmo) e seguem direto para uma Zona Sul mítica propagandeada por novelas da Globo. Conheci a cidade chegando pela Rodovia Washington Luís, vindo da serra, passando por Duque de Caxias. Conheci a Zona da Leopoldina, com sua decadência, invadida por uma favelização alegre, contrastando com uma eterna cara de desânimo dos moradores antigos, do tempo das crônicas de Nelson Rodrigues.


Cheguei ao centro da cidade via Vigário Geral, Cordovil, Brás de Pina, Penha, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Manguinhos, Benfica, São Cristóvão, Santo Cristo... Pelo caminho, tropecei em bandidos em formação, mendigos, sambistas esquecidos, periguetes com cabelos mal pintados, e outros personagens de toda sorte, afogando suas mágoas com cerveja barata em meio a muito abandono e sujeira. O Centro, de certa forma, acaba virando um desembocadouro de todos esses tipos humanos, uma geléia cinzenta, com belos casarões antigos que nos causam pena de ver abandonados. Volta e meia, desaba um. Nesse mesmo Centro, se aglutinam e se reproduzem ainda nos dias de hoje o mesmo desleixo que os cariocas que receberam a família real de Portugal em 1808 dispensavam à sua cidade. Lixo no chão, lixo nos bueiros e milhões de cariocas tocando suas vidas pra lá e pra cá. Desorganização, preguiça e uma malandragem burra, do tipo que não se reinventou, que não evoluiu, que não se transformou em esperteza, nem em inteligência.Os bacanas da Zona Sul vem trabalhar aqui, pela Presidente Vargas ou pela Rio Branco. Os bacanas do Estácio e da Providência também vem, roubam ali em frente à central. Já os bacanas da Zona Sul que roubam, normalmente dão expediente ou ali ao lado do Paço Imperial ou naquele prédio ao lado da sede dos Correios, na altura do 2.500 da Presidente Vargas. Tá pensando o quê, o Centro é lugar de trabalho.


E eis que um dia alguns bacanas resolveram que para melhorar o Rio de Janeiro, não precisavam de fato melhorá-lo tanto assim. Bastava vendê-lo, mas vendê-lo bem mesmo. Aí os ricaços que engolissem a isca, iriam fazer todo o trabalho. Iriam melhorar a cidade por conta própria. Mas a campanha de promoção teria que ser boa, muito boa. Envolveria o mundo inteiro, quem sabe até conseguir-se-ia trazer uma olimpíada para ser feita na cidade? Mesmo com bueiros explodindo, mesmo com um trânsito patético, mesmo com uma criminalidade próxima à de países em guerra. A propaganda seria a alma do negócio, e os negócios seriam de alto nível. Envolveriam empreiteiras, envolveriam viagens internacionais. Precisaria muita disponibilidade pra viajar, e muita cara-de-pau, muita lábia de vendedor. Por sorte, a paisagem ajuda. Aos investidores gringos mais durões, caipirinhas em profusão, para amolecer o espírito. Assim, vendemos a cidade, transformando-a em uma das mais caras e mais badaladas do mundo. E isso tudo sem precisar gastar muito mais do que sempre gastamos com transporte, limpeza pública e todo o resto, que sempre fizemos na base do cala-boca.


Mas é aquele negócio, fácil de explicar, embora não seja tão fácil de entender... o carioca é tão burro que aceita de bom grado qualquer governante cambeta que aqui chegue, seja um Dom João, seja um Garotinho. Aceita ser atingido por balas perdidas, enquanto aplaude embevecidamente o pôr-do-sol em Ipanema, flutuando na marola dos baseados. Aceita voar não por intermédio de uma companhia aérea, mas por conta de bueiros que explodem... e aterrissar em um monte de lixo, ou quiçá em um aglomerado de viciados em crack dormindo num canteiro do outrora tão belo Campo de Santana.

Mas no fim das contas, o carioca mesmo, não está nem aí pra isso. Sabe como é, né? Carioca é malandro... Então tá. Vai tomando, malandro.

domingo, 13 de maio de 2012

A manada virtual


             Não, eu não acho alguém dizer que “morre de ou por amor” lindo via rede social. Até porque na grande maioria das vezes a mesma pessoa que diz que morre de amor, dali a 2 meses já está achando o namoro “meio chato”. Ou reclamando do ciúme extremo do outro lado, ou dizendo que o outro não quer se compromenter... E não, eu não vou tirar a minha foto no perfil da rede social e colocar uma de nós dois sorridentes. Não vou deixar de ser eu pra me tornar “eu mais você”, porque no apagar das luzes, na hora H, você não é eu, e eu não sou você. O que me torna feliz numa relação é estar ao lado de alguém que é uma pessoa completa, e não uma metade cambeta que dá a entender que precisa de uma muleta pra viver. Tampouco vou colocar mensagens e indiretas para as pessoas que supostamente sentem inveja da minha felicidade. Se eu sou feliz, não há espaço para me importar com gente invejosa. Só se importa realmente (e tanto assim) com a inveja alheia, quem deseja parecer mais feliz do que de fato é. Também não vou passar o dia mandando mensagens edificantes de pensadores, intelectuais e artistas de renome, enquanto minha própria vida é uma prova de que eu não pratico nada daquilo que as tais mensagens aconselham.

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             Não, eu não vou achar que salvar os animais é colocar online uma foto de um cão machucado. Colocar uma foto online é fácil, difícil é ter cabeça no lugar e saber que não dá pra salvar todos os bichos do mundo. Eu não vou achar linda aquela roupinha que faz o seu cachorro parecer ridículo. Tenho certeza que ele concordaria comigo que tratá-lo “como se fosse gente” é de uma certa forma, subestimá-lo em sua condição. Acredito profundamente que na sua maioria, os bichos são muito mais dignos que o ser humano, e quem tenta humanizá-los demais acaba por ofendê-los. Não, não vou bater palmas para as iniciativas de “acumuladores de animais”...  Pessoas que por alguma deficiência emocional, deixam de resolver seus problemas vestindo um manto de salvadores dos pobres bichinhos, muitas vezes condenando-os a condições aquém das ideais, cegos por um “amor” que é apenas uma maneira de ocultar uma doença... E que acaba deixando os pobres animais doentes também.
             Não, eu não vou compartilhar aquela mensagem de ajuda a uma criança deformada, porque a criança deformada da imagem é a mesma de um e-mail que recebi há uns 5 anos atrás. A não ser que essa doença congele o crescimento, a essa altura a criança já morreu ou foi curada. Tampouco vou compartilhar aquela mensagem da menininha desaparecida segurando uma flor. Se contar da primeira vez que recebi essa foto, a menina já deve estar com uns 15 anos hoje em dia. Mas na foto, continua com os mesmos 2 ou 3 anos de idade. E não, eu não vou fazer apologia da minha religião pra quem quer que seja. Se eu desejo seguir minha crença e não imponho a ninguém que o faça, se torna desagradável que acenem insistentemente os pequenos fanatismos do cotidiano na minha frente.]


             Ainda há muito humor, arte, beleza e poesia nas coisas simples do mundo... Mas a sutileza está morrendo, soterrada na mediocridade de uma sociedade que só pensa em termos de agora ou nunca, de vida ou morte, de amor ou ódio. As mentes se estreitam, se apequenam, as artérias ficam cada vez mais estreitas, entupidas pelo açúcar de um romantismo piegas. Há poucas pessoas capazes de olhar por cima desse muro, capazes de enxergar que há um mundo fora da caverna. E aos que já enxergaram, há todo o descontentamento em ver o quanto os que continuam lá dentro brincam com as sombras, de costas para a realidade. Compartilhe coisas boas, mas antes, descubra por si ou que elas são. Tente pôr a cabeça acima e olhar em volta, pois seguir a manada é muito fácil.