segunda-feira, 20 de junho de 2011

Hanna


Assisti ao filme “Hanna” de Joe Wright, diretor do festejado Desejo e Reparação, de 2007. A presença de 2 atores de quem eu gosto bastante, como Eric Bana e Cate Blanchett, além da vontade de rever a quase impronunciável, Saoirse Ronan, que tinha feito um bom trabalho naquele mesmo Desejo e Reparação, fez com que eu me interessasse por esse filme, que prometia ser um bom thriller de espionagem. Mas, nem tudo neste filme é o que parece. E, apesar dessa característica funcionar bem em alguns filmes, neste aqui não foi bem o que aconteceu.

Partimos da premissa já bastante explorada da “tentativa genética de se criar uma arma perfeita”. Apesar de batida, nada contra o ponto de partida da trama, que já rendeu e ainda pode render bons filmes nesse filão, desde que a idéia seja bem explorada. A tal “arma perfeita” é personificada aqui por uma adolescente criada desde a infância em um ambiente inóspito, por um pai que demonstra ser um agente secreto competente. Percebe-se que todos esses anos passados em isolamento, serviram apenas para que a menina se escondesse, ao mesmo tempo em que o pai a ensinava todo o necessário para se proteger caso algum dia fosse descoberto seu paradeiro. Mesmo sem o filme entregar os detalhes todos de cara, quem está habituado com esse tipo de roteiro matará algumas charadas de pronto. Na primeira quinta parte do filme, já vimos pistas o suficiente de que a experiência que resultou no nascimento da menina em algum momento foi cancelada. Que há toda uma divisão da CIA, comandada por uma agente implacável, interessada em que essa informação jamais chegue a público.

Até certo momento, as decisões criativas do diretor parecem funcionar bem. A utilização de conceitos pouco usuais para esse tipo de filme, seja no tratamento visual, seja nos jogos de câmera, e até mesmo certas decisões de roteiro, funcionam bem em alguns momentos. Acaba criando-se um clima diferente, destacando a história e dando um sabor diferente do que outros filmes do mesmo gênero costumam mostrar. Porém, se esse estilo funciona bem em alguns momentos, as mesmas decisões começam a fazer o barco balançar para o lado errado muitas outras vezes, atrapalhando até um pouco mais que ajudando. Em alguns momentos a simbologia poética que ele procura utilizar em certas cenas se perde por não condizer com o estilo da trama, em outros a forma de filmar as cenas de luta e ação parece um tanto inadequada, ou até mesmo datada. Chega-se ao extremo desse aspecto em uma cena onde a personagem principal derruba um inimigo com rapidez, cortando-o várias vezes na área do tórax e pescoço com uma faca, conseguindo a façanha de não vermos uma gota de sangue decorrente do ataque. A questão de

Enquanto os atores estão corretos em seus papéis, certas situações em que o roteiro os colocam não são favoráveis a seus desempenhos. Eric Bana convenceria como um agente recluso que tenta proteger a filha a todo custo, se o roteiro não fizesse com que ele se separasse dela em pontos cruciais da história. Cate Blanchett convenceria como a agente implacável, que quer eliminar tanto pai como filha a qualquer custo, se tivesse cenas onde pudesse mostrar de fato porque é uma agente implacável, ou uma vilã desprezível. Vemos seu modus operandi, mas pouco sabemos de suas motivações. E Saoirse Ronan como Hanna, simplesmente emprestou sua aparência ao personagem, mas pouco contribuiu com algo que tornasse o personagem marcante. Vemos em Hanna uma menina que poderia ter sido interpretada por qualquer outra atriz da mesma idade e característica física. Somado a isso, um elenco de apoio variando entre o pobre e o irrelevante ajudou a balançar um pouco mais o barco do filme. Alguns dos capangas e a personagem da menina que em certo ponto da fuga, faz amizade com Hanna, pareciam ter saído de filmes de comédia, sendo este um dos pontos mais fracos de toda a obra.

Concluo considerando que o filme não é de todo ruim. Como produção, não deixa a desejar. Algumas decisões estéticas, a sacada de mesclar conceitos e simbologias de um conto de fada dos irmãos Grimm a um thriller de espionagem, e a trilha sonora dos Chemical Brothers também é um toque de qualidade e diferenciação ao estilo. Pena que com tantas peças de boa qualidade, o quebra-cabeças final não tenha passado de um filme na média do estilo. Outros já fizeram melhor, com menos.