terça-feira, 30 de novembro de 2010

Turista Acidental

"Wanderer Above Mists" - Caspar D. Friedrich

É tão claro
Quanto me parece?
Ou estarei iludido
Ao ver tua prece?
Serei o mais acertado?
Terei eu despertado?
Achado rumo, ou ainda,
Me posto no prumo?

Se enquanto fico,
Me apoio no chão
E viajo em mim
Em meu coração
Vejo vocês voarem
Irem, e livres voltarem
E ainda assim choram
E em mim se demoram.
 
Qual o sentido
do livre voar?
Tamanho é o desejo
de ao sol viajar?
Será que a ti mesmo queres achar?
Achas que irás te encontrar?
No ar, ou no mar, a si mesmo
Se no teu próprio pensar
No teu navegar a esmo?

De que te adianta
Pôr o mundo a girar?
Numa ilha distante
Por um tempo morar?
Nas asas do vento
Fugir, se elevar
Enquanto em teu peito
Bate aquele lugar?
Que você não conhece
Que você não visita
Te adormece e mata
E a procura suscita
A viagem mais bela
O lugar mais secreto
Tu tens medo de ir
Tomas por tão incerto

Que te adianta rodar o globo
Procurando um abrigo
Se em teu próprio olhar bobo
Estás perdido, ó amigo?
Que te adianta procurar
Voando ou singrando mar
Se em dentro de ti
Existe o único país
No qual não te atreves pisar?

(Publicado no Recanto das Letras em 21/12/2005)

2 comentários:

Olá Odemilson, eu como amadora, sei como é difícil fazer poesia, ainda mais com rima. Sei que hoje tem todo um papo moderno que não precisa rimar e tal, mas eu gosto e ponto! Pbs pelo talento. Mas agora a pergunta que não quer calar.... e esse rinoceronte vendo TV hein???? ;)

Oi, Lina!

Pra começo de conversa, somos todos amadores aqui! Eu só comecei um pouco de nada antes de você, só isso. Mas na questão de amadores ou não, é tudo no mesmo barco!

Sobre rima, acho que mesmo não sendo obrigatório ou necessário por esses padrões "modernos" que vc cita, a rima é algo que me faz falta. Não me sinto obrigado a rimar, mas acho que a rima acaba aparecendo naturalmente. Em algum lugar lá no fundo da inspiração, talvez ela se imponha, quem sabe? Vem particamente que no automático. Se não tem rima, eu sinto como se estivesse faltando alguma coisa.

E sobre o rinoceronte... é uma brincadeira sobre aquela coisa de "meu pouco exato olhar" que tem no título do blog... O rinoceronte, é um animal admirável, monumental, do qual gosto muito, que transmite conceitos como força, resistência, uma certa rabugentice, aquela coisa de "não se metam a besta comigo", e... que enxerga mal à beça! Ele acaba tendo que confiar nos seus outros sentidos, que são bastante aguçados e nos seus instintos pra suprir a visão fraquinha que tem.

Bom, é isso aí! Obrigado pela visita, e se gostar, recomende.

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