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©Ivo Gonzalez, O Globo. |
É o verão da presidência anunciando que o custo da energia elétrica vai cair, poucas semanas antes de se iniciarem uma série de apagões de todos os tamanhos. Quedas de energia a granel, movimentadas pela falta de investimento e pela sobra de negociatas em vários níveis. O calor batendo recordes históricos, competindo apenas com o alcance da impunidade de muitos. Institucionaliza-se o “não to nem aí, eu sou intocável”, admite-se que é assim porque é assim mesmo e vai-se em frente. Suando, mas em frente.
É o verão da carioquice festiva, do oba-oba da próxima nova modinha de Ipanema, da especulação em cima de quais serão as contratações do futebol pra próxima temporada. Verão de gente porca que como todos os anos e cada vez mais, traz sua deseducada presença à beira do mar e deixa em forma de lixo e desrespeito à civilidade. Ficam assim toneladas de oferendas a uma Iemanjá impossível de ser reciclada. É o Rio de Janeiro que é bonito só por natureza mesmo, pois cada vez mais se distancia da terra de maravilhas que um dia já se candidatou a ser. Inchado de gente, carente de educação, incapaz de fazer nada mais competente e profissional que alguns malabarismos nos sinais de trânsito para tentar arrancar alguns trocados dos turistas.
É o verão da chuva que cai no fim da tarde, alagando aqui, infiltrando ali, fazendo algum bairro parar, e uma ou outra cidade das cercanias entrar em estado de emergência. É verão e a lama que normalmente vive em estado simbólico nos gabinetes políticos e presidências de grandes empresas, assume um corpo real e sai pra passear no meio do povo. É o verão onde um sambista com fama de bebum mostra muito mais valor e comprometimento com a comunidade (que informalmente representa) do que um governador com fama de cocainômano para com a comunidade da qual é representante oficial. No que tange esse assunto, esse verão é só mais um.
É o calor da chegada da nova temporada do reality show mais assistido da TV, é o calor da guerra de egos entre artistas que vivem em blisters de plástico, é o calor da eterna espera por um carnaval, fazendo com que um mês inteiro não simbolize absolutamente nada. É o calor da raiva gerada por depender de serviços em um lugar onde o ano só começa depois do segundo mês do ano. É mais um verão dos assaltos, mais um verão de promessas não cumpridas, de engarrafamentos para chegar à praia, e de falta d’água quando se volta dela. É no calor desse verão que um dia Lulu Santos cantou que como as ondas do mar, tudo muda, o tempo todo, no mu-u-un-do... Só esqueceu de falar que no verão do Rio de Janeiro se as coisas não continuam exatamente as mesmas, elas sempre podem piorar.
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