terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Bem-Entendido

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Há coisa de um momento
Eu não queria mais sentir.
Questão de instantes,
Em que só queria fugir
Deixar pra trás essa terra
Essa cidade, escapulir
Dessa gente que só erra
Que só sabe se distrair...

Há menos de um minuto
Eu queria mais que tudo
Poder tirar o traje de luto
Essa minha roupa tão sóbria
Toda a desculpa que me sobra
Pra não virar um prostituto
Pra não me perder como eles
Abandonar meu olho arguto
E amansar meu instinto feroz.

Há pouco menos de um instante
Abandonei meu modo educado,
Eu deixei de ser um galante,
Que ficava incomodado
Com os modos deselegantes
Dessa gente tão barulhenta
De coração tão arrogante
Com consciência tão curta,
E insegurança gritante.

Mas uma fração de segundo passada,
Numa visão, num lance de vista
Cortaram meu sono à espada
Chamaram meu nome na pista...
E tive que voltar à arena,
Não pra lutar, mas me perguntaram
De que tão cansado eu estava,
Que tipo de ferida me causaram
E de que tormentas me afastava.

Numa troca de olhares cansados
Brilhando o desejo de afastamento
Dessa multidão de humanos errados
E numa busca por mais entendimento
No final luminoso de uma certa tarde
Os dois olharam numa mesma direção
Sem menor escândalo, sem nenhum plano
Quietos, qual a batida de um coração
Entenderam, há todo um mundo de engano..
Mas de bom mesmo, só uma intenção.

Então sorriram, e deram as mãos.

Publicado no Recanto das Letras em 28/12/2010

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